sábado, 28 de fevereiro de 2009

ARTIGO SOBRE VYGOTSKY

A ALFABETIZAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL DE VYGOTSKY
MARINHO CELESTINO DE SOUZA FILHO[1]

Vygotsky[2] é considerado, atualmente, um dos mais importantes estudiosos na área do conhecimento humano.
Desenvolveu seus estudos dentro da Psicologia, aplicando muitas dessas descobertas na área da linguagem humana e Educação.
Tendo formulado, dessa forma, uma teoria muito importante sobre a aquisição da linguagem humana.
Descreve o processo de pré-história da escrita, analisando estratégias que a criança utiliza para construir este conhecimento.
Para Vygotsky, o gesto é a primeira e (talvez) uma das formas mais relevantes de comunicação da criança, aliás, considera-o como uma palavra escrita no ar, depois vem o desenho.
Enfatiza ainda o papel do sujeito e vê na relação dialógica um dos meios de se desenvolver o autêntico conhecimento.
Por isso, afirma que a criança não constrói, individualmente, o conhecimento, mas, integra-o à sua cultura, ou seja, há uma relação dialógica e constante entre criança/conhecimento/ cultura.
Os trabalhos desse autor em muitos pontos se assemelham aos de Emília Ferreiro, apesar de Ferreiro ter se preocupado mais com a gênese da escrita, enquanto Vygotsky com a construção dos significados, ou melhor, para tão referido autor importava mais como a criança utiliza a escrita e a partir daí como ela constrói os significados.
Sendo assim, mostraremos agora o papel atribuído à linguagem pela Teoria Vygotskyana.
Sabemos que Piaget formulou a hipótese do conhecimento individual, ou seja, para esse autor, o conhecimento seria fruto de uma interação entre indivíduo/objeto a ser conhecido.
Se bem que não se possa discordar que a atividade do sujeito seja básica para a construção do conhecimento, isso não implica que a influência do professor e o tipo de interação que a criança estiver envolvida, não pesem nesta construção, isto é, a interação mediada pela linguagem pelo sujeito e pela cultura tem papel relevante, não apenas na construção do conhecimento, mas também no desenvolvimento de diferentes processos psicológicos, como a memória, a atenção, a formação de conceitos, etc.
Para tão referido autor, a linguagem age decisivamente na estrutura do pensamento, sendo uma das principais (quem sabe a única) ferramenta básica para construção do conhecimento e para Bakhtin também que além de privilegiar a relação dialógica entre os seres humanos, mostra-nos que é a linguagem humana que estrutura o pensamento, a consciência, talvez este seja um dos pontos mais importantes de confluência entre a teoria desses dois estudiosos da linguagem humana e do conhecimento.
Nesse aspecto, consoante Vygotsky, o conhecimento se constrói, num primeiro momento, de forma intersubjetiva (entre pessoas) e num segundo momento; de forma intra-subjetiva (no interior do sujeito).
Para Vygotsky, o conhecimento se dá na relação eu/tu e eu/eu, ou seja, a construção do conhecimento não é nem passiva e nem ativa, é interativa.
A criança ao nascer se integra em uma história e em uma cultura: a história e a cultura de seus antepassados próximos e distantes, que se caracterizam como peças importantes na construção do conhecimento da criança.
O aprendizado bem organizado para Vygotsky (1987: 11), gera o “desenvolvimento mental e “mexe” com várias outras etapas do desenvolvimento que de uma outra maneira seria impossível de ser realizado.” (grifos nossos).
Para tão referido autor, o aprendizado se dá muito antes da criança entrar para a escola, porque, desde o momento em que a criança nasce e até em seus primeiros anos de vida, ela se relaciona, inter-relaciona-se com diferentes sujeitos; adultos e crianças; situações; as quais lhe permitem criar sentidos outros sobre diferentes ações, diálogos e convivências.
Apesar de a criança apreender antes mesmo de chegar à escola, Vygotsky enfatiza a importância da escola para a construção do conhecimento da criança, já que para Vygotsky (op.cit., 95), o aprendizado escolar produz “novidade relevante ao desenvolvimento cognitivo da criança.” (grifos nossos).
Do exposto, percebemos a importância da teoria do conhecimento desenvolvida por Vygotsky para o processo de ensino-aprendizagem de uma determinada língua.
[1] Professor de Língua Portuguesa na Unijipa – União das Escolas Superiores de Ji-Paraná – RO e da E.E.E.F.M. Coronel Jorge Teixeira de Oliveira em Nova Londrina – Ji-Paraná. E-mails: marola_5@hotmail.com.br e marinho@unijipa.edu.br , Celular: 99094301.
[2] Para saber mais ver: VYGOTSKY, L. S. (1984). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes. __________ , L. S. (1987). Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes.

AVALIAÇÃO.

AVALIAÇÃO[1]

“(...) Por isto é que somente os oprimidos, libertando-se, podem libertar os opressores. Estes, enquanto classe que oprime, nem libertam, nem se libertam.” (Paulo Freire).

Conceito: Avaliação é um processo de reflexão contínua sobre uma ação, em um contexto coletivo para compreender o específico, buscando mudanças necessárias no processo educacional.
Existem duas modalidades de avaliação: a objetiva e a descritiva.
Muitas escolas vêm adotando a colaboração de pareceres descritivos em termos de registros de atribuição de notas ou conceitos classificatórios na análise do trabalho desenvolvido junto aos alunos. Muitos professores passaram a fazer relatos por escrito sobre o desempenho dos educandos, principalmente, nas pré-escolas e séries iniciais, e atualmente, no ensino fundamental e médio.
Esta é uma tarefa que não é muito fácil!
É compreendendo a dificuldade dos professores em avaliar continuamente que as teorias neste campo nos remetem a um desafio permanente de em todos os momentos prestarmos atenção em todos os alunos e refletir profundamente sobre a ação de avaliar o cotidiano escolar.
A Avaliação deve ser contínua, para que possa cumprir sua função de auxílio ao processo de ensino-aprendizagem. Na Avaliação, o que importa é aquela que é feita no processo, quando o professor pode estar acompanhando a construção do conhecimento pelo educando. Avaliar na hora que precisa ser avaliado, para ajudar o aluno a construir o seu conhecimento. Verificando os vários estágios do desenvolvimento dos alunos e não os julgando apenas num determinado momento estanque; geralmente; o da prova.
Avaliar o processo e não simplesmente o produto, ou melhor, avaliar o produto no processo.
A Separação entre a Avaliação e o processo de ensino-aprendizagem, fazer-se a Avaliação não só no cotidiano do trabalho em sala de aula, mas, em momentos especiais, com rituais especiais; causaram sérios problemas para a Educação Escolar. Em nome da suposta Objetividade, da Imparcialidade, do Rigor dito Científico; chegou-se a uma profunda desvinculação da Avaliação no processo educacional.
Provas preparadas, aplicadas e corrigidas por outros que não os professores das respectivas turmas, eram sinônimos de qualidade de ensino. É óbvio que toda esta ênfase não passou despercebida pelos alunos, que, por sua vez, começaram dar destaque especial também. Introduzindo, assim, uma distorção no sentido da Avaliação, notadamente, através de um sintoma – a Cola.
No seu verdadeiro sentido, a Avaliação sempre faz parte do processo de ensino-aprendizagem, pois, o professor não pode propiciar a aprendizagem, a menos que esteja constantemente avaliando as condições de interação com os seus educandos. Está relacionada ao processo de construção do conhecimento.
Pela avaliação, o professor vai acompanhar a construção das representações de mundos possíveis ou imaginados no aluno, percebendo onde se encontra, bem como as elaborações sintéticas, ainda que provisórias, possibilitando a interação na perspectiva de superação do senso comum.
A Avaliação deve ser considerada um processo para contribuir nas tomadas de decisões referentes à Educação, como: melhoria do ensino, da aprendizagem e ainda das relações que permeiam professores, alunos, enfim, todas as pessoas envolvidas no processo, isto é, na arte de educar.
Por conseguinte, a Avaliação nunca deve ser um fim por si só, não deve ser usada como uma arma contra o aluno com poderes de aprovar ou reprovar, premiar ou punir de justificar, julgar e selecionar numa escala de valores; de notas ou conceitos “os mais capazes e os menos capazes”.
Por isso, a Avaliação deve se constituir num instrumento participativo, o que significa dizer que a Avaliação possibilita fazer a correção das distorções no processo de construção do conhecimento através do estabelecimento de critérios e instrumentos próprios.
Referências Bibliográficas:
HOFFMANN, Jussara Maria Lerch (1993). Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Educação e Realidade.
LUCKESI, Cipriano Carlos (1986). “Avaliação Educacional Escolar Para Além do Autoritarismo.” Revista da Ande, (10): 47-51, (11): 47-49, São Paulo.
[1] Marinho Celestino de Souza Filho, Mestre em Lingüística é professor da Unijipa – União das Escolas Superiores de Ji-Paraná e da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Coronel Jorge Teixeira de Oliveira.

CIÊNCIAS HUMANAS, HISTÓRIA ORAL E LINGUAGEM: RELAÇÕES/IMPLICAÇÕES.

[1]CIÊNCIAS HUMANAS, HISTÓRIA ORAL E LINGUAGEM: RELAÇÕES/ IMPLICAÇÕES.

Resumo: Neste breve trabalho, pretendemos mostrar as relações que se tecem e são tecidas entre Linguagem, História Oral e Ciências Humanas.
Palavras – Chave: Linguagem. História Oral. Ciências Humanas. Teoria da Interação Verbal. Subjetivismo Idealista. Objetivismo Abstrato.
Abstract: In this brief work, we intend to show the relations that are woven and are woven between Language, Oral History and Human Sciences.
Key-Words: Language, Oral History, Human Sciences, Theory of the Verbal Interaction, Idealist Subjectivism and Abstract Objectivism.

1.0 Introdução
Neste breve ensaio, pretendo mostrar a origem das Ciências Humanas e suas relações-implicações com a Linguagem e com a História Oral.

2.0 Ciências humanas: contextualização histórica

Para tratarmos das Ciências Humanas, antes recorreremos a Japiassu e depois a Kramer. Segundo Japiassu (1982, p. 23): “Entendemos por ‘ciência moderna’ a ciência que surgiu no século XVII com a Revolução Galileana. Não nasceu perfeita e completa das cabeças de Galileu e de Descartes. Pelo contrário, foi preparada por um longo esforço de pensamento”.
Notamos que as Ciências Modernas não surgem do acaso, há uma longa História por trás da História da origem das Ciências Modernas.
Se fizermos uma análise da História da humanidade, perceberemos que a afirmativa feita acima é verdadeira. Para comprovarmos essa afirmativa, precisaremos retroceder um pouco na História da Humanidade, mais precisamente, no período da Santa Inquisição.
Nesse período, tivemos uma fase estéril para as Ciências Humanas, porque todo conhecimento científico, toda filosofia provinham da igreja.
Nesse sentido, até Galileu foi condenado pelo tribunal da Santa Inquisição, porque discordou, principalmente, da teoria do Geocentrismo – movimento que considerava a terra como o centro do Universo.
Não obstante, Galileu com a invenção do telescópio prova o oposto: a terra não era o centro do Universo como acreditava a igreja, e sim o sol, ainda que essa teoria tenha sido concebida por Copérnico, ele não a formulou embasada nas Ciências, mas formulou-a por razões meramente religiosas, porque como algumas pessoas de sua época, segundo Japiassu (1982), Copérnico também adorava o sol, nutrindo certa paixão pela estrela de quinta grandeza, chegando a reverenciá-la como se fosse um Deus. Sendo assim, Copérnico não pôde ser considerado o “pai” das Ciências Modernas.

Dessa forma, Galileu constitui-se o precursor das Ciências Modernas e concordamos com Japiassu (1982, p. 28), ao afirmar que:

O primeiro sábio moderno, o fundador da ciência moderna, foi incontestavelmente Galileu. Neste ponto, a Inquisição não se enganou: condenou o homem certo. E a convicção profunda desse homem é a de que as formas matemáticas estão realizadas no mundo. Para ele, a natureza só pode ser conhecida através da experiência, vale dizer, mediante questões que lhe são colocadas. Essas questões possuem uma linguagem toda especial: linguagem geométrica e matemática.

Logo, Galileu deve ser considerado o “pai” das Ciências Modernas, mas em se tratando das Ciências Humanas, Japiassu (1994, p. 9) nos mostra que “1. As Ciências Humanas nasceram da deposição do sujeito pensante no século XIX. Não constituem um anexo da filosofia. Tampouco são seus porta-vozes modernistas. E porque desapropriaram os filósofos de seu objeto que lhes interessam.”
Desse modo, surgem as Ciências do homem, porque, a partir do momento que o homem torna-se ao mesmo tempo sujeito e objeto do conhecimento é mister haver uma ciência que se dedique exclusivamente ao estudo do ser humano: as Ciências Humanas.
No entanto, tratar desse assunto é engajar-se num espaço polêmico, conforme nos assegura Japiassu (1994, p. 9):

(...) 2. Falar das Ciências Humanas já é engajar-se num espaço polêmico. Porque, sob essa denominação, apresentam-se trabalhos que, freqüentemente, pouco ou nada possuem em comum. Não se trata, pois, de conciliar ou de reconciliar, mais de ordenar e de justificar seu acesso à positividade. Porque um discurso sobre as Ciências Humanas constitui um discurso em que a teoria se converte facilmente em estratégia.

Dessa forma, observemos como Japiassu (1994, p. 21) trata do caráter positivista aplicado às Ciências Humanas:

As Ciências Humanas vinculam-se, desde sua origem, ao espírito de positividade das Ciências naturais. Uma das principais razões para esse fato: é evidente que há fenômenos e processos humanos; há manifestações da realidade de “homem” acessíveis à observação, tais fenômenos e processos podem ser analisados empiricamente.

Concordamos com o autor de que há fenômenos e processos observáveis, dados que podem ser manipulados, todavia, nem todos os fenômenos humanos podem ser facilmente observados e empiricamente dedutíveis, porque é quase impossível compreender e depreender em seu todo a realidade humana.
Desse modo, torna-se difícil aplicar o método positivista às Ciências Humanas.
Outra questão complexa que se insere no bojo das Ciências Humanas é o seu caráter objetivo. Por isso, para tratar desse assunto nos embasaremos em Lajolo e Kramer.
Segundo Kramer (1994, p. 20), as Ciências Humanas se instauram no século XVIII, outorgando a si mesmas o status de cientificidade:

Bem, as ciências humanas instauram-se no século XVIII, com pretensão de cientificidade. Buscam ter reconhecida sua legitimidade como ciências – especialmente a partir do século XIX – tentando definir suas leis com base em paradigmas então consagrados nas ciências naturais. Objetividade e neutralidade são almejadas em direção a um conhecimento positivo da realidade humana. O homem torna-se objeto. Os fatos sociais são vistos como coisas.

Como vimos as Ciências Humanas tentam definir seus modelos com base nos paradigmas que permeiam as Ciências Naturais, cujo estatuto se alicerça em duas leis: Objetividade e Neutralidade desejadas, almejadas e direcionadas a um conhecimento positivo da realidade humana.
Sabemos que esta pretensa objetividade e neutralidade são quase impossíveis de serem alcançadas. Quando se trata da realidade humana não há como considerarmos o homem mero objeto, uma coisa, ou melhor, não há como considerar os fatos sociais isolados e nem como coisificar a História Humana e a sociedade em que está inserida. É impossível dissociarmos o homem de sua História Social, porque mesmo os cientistas apesar de muitas vezes perseguirem objetivos distintos dos perseguidos pelo homem comum, estão também sujeitos a toda sorte de fatores que interferem na existência humana. Conforme nos mostra Lajolo (1996, p. 19): “Não parece, em síntese, que os trabalhos se fazem sozinhos que os objetivos são formulados pelos projetos, enfim, que por dentro das luvas, por detrás dos óculos e do outro lado do microscópio não há nervos nem sangue, dúvidas a resolver nem dívidas a pagar?”
Diante do exposto, mostraremos alguns modelos explicativos inseridos no bojo das Ciências Humanas.
Estes modelos são as bases sob as quais as Ciências Humanas se desenvolveram, libertando-se, pouco a pouco, dos domínios provenientes da filosofia e da teologia. Tais modelos causaram o nascimento das Ciências Humanas, garantindo-lhes objetividade e cientificidade, determinando-lhes sua epistemologia.
Nesse sentido, o método utilizado pelas Ciências Humanas é o mesmo utilizado pelas Ciências Naturais: consiste numa explicação objetiva e positivista do conhecimento humano e da realidade.
De acordo com Japiassu (1994), são três os principais eixos ou modelos epistemológicos:
a) O eixo ou o modelo da ciência rigorosa: embasado nas leis de Newton, nas leis da Mecânica, ciência que se dedica ao estudo das leis do movimento e do equilíbrio.
b) O eixo ou modelo da biologia: postula que todo conhecimento, todas as ações humanas são definidas em função de fatores físico-químicos, por isso, todo fato humano possui uma base biológica e toda história um pano de fundo naturalista. Dessa forma, todos os atos conscientes, culturais e históricos são determinados pelos exercícios das funções vitais, que, indubitavelmente, impregnam o conhecimento que é considerado científico em detrimento da ação fisiológica, química e biológica que o cerca, determinando-o.
c) O modelo histórico-cultural: estabelece que o passado deve ser priorizado em detrimento do presente e do futuro, desse modo, o passado tem primazia sobre a história, a cultura, enfim, sobre a existência humana. Sendo assim, todo conhecimento dessa época (século XVIII) para ser considerado científico deveria, “a priori”, possuir um caráter histórico.
Nesse sentido, as disciplinas que não utilizassem um desses modelos, estariam condenadas a jamais se ingressarem no terreno “sacralizado” do saber objetivo, sendo excluídas das “verdadeiras ciências”. Dessa forma, em cada período histórico pertencente ao século XVIII, predominou um dos modelos ou eixo anteriormente mencionados como fator epistemológico inserido ao campo de investigação das Ciências Humanas, apesar dessa predominância, acreditamos que cada um desses modelos epistemológicos não é em si mesmo excludente, ao contrário, devem se integrar para fornecerem uma base epistemológica adequada às Ciências Humanas. Ainda assim, é imprescindível que haja um rompimento com dos paradigmas das Ciências Naturais impostos às Humanas.
Dessa forma, deve-se romper, principalmente, com o modelo positivista explicativo e o interpretativo legado pelas Ciências Naturais às Ciências Humanas, ou seja, romper com o paradigma que sustenta o assujeitamento do sujeito, seja pela ideologia, seja pelo discurso cientificista positivista, cuja crença se fundamenta numa suposta neutralidade e objetividade perseguidas, entretanto, difíceis de serem alcançadas. Porque mesmo num discurso supostamente neutro e objetivo há presença do sujeito que marca certa posição. Isso fica claro quando percebemos que o fato de defender a neutralidade, por si só, já é um modo específico de marcar posição: a saber, uma atitude ética.
O rompimento deve dar-se na tentativa de construir subsídios para compreender, no campo social, a presença de um sujeito ativo e criativo.
Em vista disso, o rompimento e a construção dos novos subsídios dos quais tratamos anteriormente, dar-se-iam na e pela linguagem, uma vez que através dela podemos romper com a crença de que o homem é objeto ou coisa. Porque somente pela linguagem é que poderemos restaurar o espaço do sentido, furtado do sujeito. Desse modo, não há como dissociar o homem do seu contexto social, ou melhor, uma Ciência que não leve em conta a situação social por que passa o homem, seus anseios, suas lutas, suas vitórias, fracassos e sucessos, enfim, o próprio homem, não pode se intitular ciência do homem, ciências para o homem ou Ciência Humana.

2.1 A linguagem humana

Segundo Koch (1997), foram construídas no decorrer da história humana três concepções distintas de linguagem, a saber: como representação (“espelho”) do mundo e do pensamento; como instrumento (“ferramenta”) de comunicação; como forma (“lugar”) de ação ou interação.
Dentre as três concepções acima mencionadas, a que mais interessa para este trabalho é a terceira, apesar de a primeira e a segunda serem muito defendidas, atualmente.
A primeira afirma que a linguagem serviria para representar o mundo e a realidade que nos cerca e ainda aquilo que pensamos sobre ela, dessa forma, a linguagem seria uma espécie de “espelho” por que perpassam nossos pensamentos e os seres vivos ou não os quais nos rodeiam.
A segunda mostra-nos que a linguagem seria centrada apenas na comunicação. A linguagem funcionaria somente para transmitir mensagens, pressupondo, assim, um emissor e um receptor ideal. Apesar de o processo de comunicação e a linguagem não serem tão simples assim como mostra a Teoria da Comunicação, porque as pessoas ao falarem não só comunicam o que estão falando, como também agem e reagem através da linguagem, desse modo, podem interromper quem fala e muitas vezes também são interrompidas, além de poderem produzir pausas, hesitações e ironias.
Além disso, há de se considerar o lugar de onde as pessoas falam, a imagem que elas têm umas das outras, a posição social dessas pessoas e ainda o que dizem e até o que não dizem dizendo, ou melhor, a questão dos não-ditos. Observando, ainda, principalmente; o contexto sócio-histórico e ideológico no qual esses interlocutores estão inseridos.
Na terceira concepção, percebemos que a linguagem seria fruto da interação entre enunciador/enunciatário, falante/ouvinte, autor/leitor, prestando-se não só como representação do pensamento, mas também como processo de comunicação, isto é, uma peça fundamental para a interação entre os seres humanos e, neste caso, a linguagem sofreria o que Travaglia[2] chama de “exterioridade” sócio-histórica e ideológica, ou melhor, a linguagem seria influenciada pelo contexto lingüístico e extralingüístico, pela ideologia e pela História, não só a oficial, mas também a história de cada indivíduo.
Por isso, esta concepção se torna muito mais relevante para a construção desse trabalho, porque, além de contemplar muitos aspectos importantes negados pela primeira e segunda concepção de linguagem, também está inserida na teoria da Interação Verbal idealizada por Bakhtin.
Embora diferentes, as três concepções de linguagem acima citadas, não são totalmente excludentes, complementam-se, inter-relacionam-se, posto que os falantes de certa língua, ao utilizá-la, estarão, concomitantemente, comunicando-se, pensando sobre o quê e como devem falar e ainda integrando-se no meio social do qual participam.

3.0 A História Oral no contexto da linguagem

Apesar de o nosso trabalho priorizar a teoria da Interação Verbal proposta por Bakhtin, também adotaremos, ao longo deste trabalho, os procedimentos metodológicos oriundos da História oral.
Dessa forma, Segundo Grudzinski (2001) o uso da História Oral remonta aos anos 50 do século XX, vista como meio, modo de deixar o sujeito excluído falar sobre os seus anseios, suas emoções, suas lembranças, enfim, sobre o seu passado, baseando-se para isso em suas memórias, dessa maneira, a História Oral garante ao sujeito o direito de contar uma outra História diferente da Oficial, uma vez que ele é quase sempre excluído pela história oficial, pelas fontes oficiais.
A História Oral trabalha exclusivamente com gravações de entrevistas cedidas pelos seus colaboradores, mas também com testemunhos de vida, cedidos por estas mesmas pessoas. Além de considerar também as conjunturas, as instituições e, sobretudo os movimentos coletivos.
Percebendo na Narrativa de seus colaboradores, o seu principal instrumento de trabalho, dando preferência à história de vida contada pelas pessoas entrevistadas, dessa forma, as histórias de vida se tornam um dos principais objetos de estudo da História Oral.
Sendo assim, Grudzinski (2001) nos mostra ainda que o pesquisador que trabalha com fontes orais, não pode confiar totalmente no passado, nas lembranças de seu colaborador, porque essas lembranças podem carecer de certa fidelidade em relação aos fatos realmente acontecidos, por isso, não devem ser consideradas como única fonte de verdade, já que os relatos e as narrativas ocorridos não constituem literalmente o passado; são apenas algumas pistas dele, nem muito menos constituem a realidade. São representações mentais da realidade e do passado, por isso, o relato verdade não é a verdade, mas parte dela, representação dela, revelando, assim; pistas que somadas a outras, poderão, depois de avaliadas; servirem como uma interpretação aproximada do passado.
Diante do exposto, veremos como se emprega adequadamente a metodologia proposta pela História Oral e sua importância para a construção dessa pesquisa no que tange á sua aplicação.
Nesse aspecto, Paiva (1978) apud Caldas (2001, p. 32) nos revela os principais procedimentos empregados na coleta e no tratamento das informações provenientes da História Oral:
a) é preciso deixar o “depoente” falar livremente da vida e da sua vida, contar o que fez o que deixou de fazer e deixar que ele dê sua interpretação de tudo;
b) manter um tom coloquial, deixando a impressão de estar ouvindo o depoente, criando uma pontuação que mantenha a exata entonação da conversa;
c) deixar, no resultado final, o constante vaivém cronológico;
d) suprimir as perguntas proporcionando ao leitor um texto corrido e fácil de ser lido;
e) juntar os assuntos que se separem no vaivém das perguntas e das respostas.

Percebemos concomitantemente com Caldas (2001) que estes procedimentos se aproximam daqueles utilizados por alguns dos mais importantes oralistas, como por exemplo: Viezzer (1984) Burgos (1987) e Meihy (1990 e 1991).
Além dos procedimentos acima citados, Caldas (2001) ainda nos mostra que o processo inteiro: preparação dos questionários e gravação das entrevistas é de diálogo e de transcriação.
Transcriar não seria, apenas, modificar o texto gravado com os colaboradores, porém, seria dialogar com o texto gravado, recriar o texto, rompendo com o tradicional respeito, distância entre sujeito e objeto, porque, todo objeto, como sabemos, é criação do ser social, logo, como tal não há como dissociá-los.
Transcriação, conforme Caldas (2001, p.35) seria ainda: “uma ação criativa e uma relação viva entre as clássicas dicotomias (sujeito-objeto, eu – tu, oral – escrito, documento – pesquisador) superando-as sem fazer-lhes concessões”.


3.1 A Interação Verbal

Como dissemos em 2.1, a concepção de linguagem que norteará o nosso trabalho, será a terceira dentre as explanadas por Koch (1997, p.9):, isto é, “a linguagem como (forma) lugar de interação,” por isso acreditamos que a expressão verbal é que regula, estrutura a atividade mental ou a consciência.
Para comprovar a afirmativa anteriormente feita nos embasaremos primeiro em Bakhtin e “a posteriori” em Marina Yaguelo.
Yaguelo in Bakhtin (1997: 16), mostra-nos que “Se a língua é determinada pela ideologia, a consciência, portanto o pensamento, a ‘atividade mental’, que são condicionados pela linguagem, são modelados pela ideologia.”
Ora se a linguagem condiciona o pensamento e este é afetado, atravessado pela ideologia, logo é a linguagem que estrutura o pensamento, uma vez que ele (o pensamento) é condicionado, subordinado à linguagem e esta à ideologia, ou seja, ambos: pensamento e linguagem são determinados pela ideologia.
Para ratificar o que foi dito no parágrafo anterior, citaremos ainda os seguintes autores: Sonia Kramer (1994), Maria Tereza de Assunção (1996) e Carlos Aberto Faraco (2001) os quais certamente confirmarão o que dissemos anteriormente acerca da linguagem e da consciência.
Sendo assim, segundo Kramer (1994, p. 73):

(...) Nesse sentido, para Bakhtin não é a atividade mental que organiza a expressão, mas a expressão que organiza a atividade mental. Dessa forma, ele se opõe a uma concepção mecanicista que aparta a língua da história e se opõe também, ao racionalismo que não capta a língua nos seus fatos vivos. Supera, então, de um lado, o subjetivismo idealista que só leva em consideração a fala e que tenta explicá-la a partir da vida psíquica individual do falante, mas ultrapassa, de outro lado, o objetivismo abstrato que rejeita a enunciação por ser individual. Para Bakhtin, o ato de fala – e seu produto, a enunciação – não pode ser explicada a partir das condições do sujeito falante, mas também não pode dele prescindir. A enunciação é de natureza social, sendo, pois determinada pela situação e pelo meio mais amplo. Assim, a atividade mental só existe a partir de uma orientação social de caráter apreciativo. O pensamento não existe, portanto, fora de sua expressão potencial, nem fora da orientação social dessa expressão.

Dessa forma, Kramer (1994) é enfatizada por Freitas (1996, p. 138), quando afirma que “O centro organizador e formador da atividade mental não está no interior do sujeito, mas fora dele, na própria interação verbal. Não é atividade que organiza a expressão, mas é a expressão que organiza a atividade mental, modelando e determinando a sua orientação”. Confirmamos com Faraco (2001, p. 118) o já afirmado:

A esse propósito e diante das considerações feitas acima, gostaríamos de dizer que não nos incluímos ente aqueles que entendem o dialogismo como uma weltanschauung, como um olhar compreensivo e abrangente do ser do homem e de seu fazer cultural. Um olhar que não está mirando apenas aspectos desse real, mas pretende captá-lo numa perspectiva de globalidade; que pensa a cultura como um vasto e complexo universo semiótico de interações axiologicamente orientadas, e entende o homem como um ser de linguagem (e, portanto, impensável sob a égide do divórcio homem/linguagem), cuja consciência, ativa e responsiva (e não mero reflexo do exterior, nem origem absoluta da expressão, mas lócus dinâmico do encontro dialógico do externo e do interno), se constrói e se desenvolve alimentando-se dos signos sociais, em meio às inúmeras relações sociointeracionais, e opera internamente com a própria lógica da interação sociossemiótica, donde emergem seus gestos singulares.

Percebemos que Faraco (2001) reafirma o que vimos dizendo até o momento e única ressalva que faz é de que: não se pode deixar de considerar a linguagem, a consciência e o sujeito destituídos do meio social do qual são participantes, no entanto, ainda assim muito antes de Faraco, Bakhtin (1997) já estabelecia a primazia do social, do diálogo e do outro em toda a sua obra.
Do exposto, faz-se necessário neste momento, tratarmos dos elementos que, conforme Bakhtin, constituem uma autêntica Teoria da Interação Verbal,
Desse modo, é com Bakhtin (1997, p. 112-113), que veremos como se dá a Teoria da Interação Verbal e quais elementos estão contidos no bojo desta teoria, portanto, observemos:
Qualquer que seja o aspecto da expressão-enunciação considerado, ele será determinado pelas condições reais em questão, isto é, antes de tudo pela situação social mais imediata. Com efeito, a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor. A palavra dirige-se a um interlocutor: variará se se tratar de uma pessoa do mesmo grupo social ou não, se esta for inferior ou superior na hierarquia social, se estiver ligada ao locutor por laços sociais mais ou menos estreitos (pai, mãe, marido, etc.).
(...) Essa orientação da palavra em função do interlocutor tem uma importância muito grande. Na realidade toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade.

Sendo assim, Bakhtin (1997) nos mostra que os elementos participantes da Teoria da Interação Verbal são: a enunciação, a situação social, os participantes imediatos, o signo ideológico manifestado através da palavra (esta orientada em função do locutor) e o diálogo..
A enunciação seria o ato ou efeito de enunciar, ou melhor, apropriação da língua por dois interlocutores, estes inseridos em um determinado contexto social, ou seja, não há enunciação sem dois interlocutores e ainda sem que estes estejam inseridos num meio social do qual são participantes, então, a enunciação depende, “a priori”, de dois fatores: dois interlocutores e do meio social, sem os quais não haveria enunciação, porque, como nos mostra Benveniste (1989): o sujeito deixa pegadas, rastros, marcas de si mesmo nos enunciados por ele produzidos.
A situação imediata ainda, segundo Bakhtin (1997) seria a característica de que todo enunciado para ser plenamente realizável estaria imanentemente relacionado com a realidade social. E ainda, conforme Bakhtin (1997) Os participantes imediatos pressupõem os interlocutores envolvidos no processo da Interação Verbal. E a palavra, ideologicamente, marcada é orientada em função do locutor. Por conseguinte, toda palavra comporta em seu bojo duas faces, a saber, toda palavra por si só apresenta uma dicotomia: ela se determina pelo fato de proceder de alguém e de se dirigir a alguém. Já o diálogo constitui uma das formas mais importantes da Interação Verbal. Aliás, sem ele não haveria Interação Verbal. Portanto, é a Interação Verbal que, realmente, fundamenta a linguagem.
Dessa forma, é bom enfatizar ainda que a linguagem só se realiza, plenamente, através de sua expressão verbal, visto que a expressão verbal determina a consciência e a atividade mental, e não o oposto. Sendo assim, a atividade mental estaria, intrinsecamente, relacionada com a tomada de consciência, ou melhor, a tomada de consciência seria a ação de duas atividades distintas; a atividade mental do eu e a do nós, as quais serão retomadas “a posteriori”, uma vez que, neste momento, interessa-nos mais descrever como se daria a interação pela expressão verbal.

Em sua filosofia sobre a expressão, Bakhtin (1997, p.12) nos mostra que:

A teoria da expressão que serve de fundamento à primeira orientação do pensamento filosófico-lingüístico é radicalmente falsa. O conteúdo a exprimir e sua objetivação externa são criados, como vimos, a partir de um único e mesmo material, pois não existe atividade mental sem expressão semiótica.

Desse modo, a primeira orientação do pensamento filosófico-lingüístico surge com Ferdinand Saussure (1916), um dos mais importantes estudiosos da linguagem, que confere à Lingüística o status de Ciência da Linguagem humana. Sua doutrina influenciou sobremaneira todo o pensamento científico no século XIX. A influência foi marcante, tanto no campo das Ciências Humanas, quanto no das Ciências Naturais.
No entanto, talvez um dos maiores equívocos de Saussure (1916) tenha sido o de desvincular a língua do mundo. Apesar de priorizar a fala, manifestação individual da língua, Saussure dá mais relevância, ênfase ao sistema, isto é, à língua em si, tomada como um sistema abstrato herdado pelos falantes, porque a língua, mesmo sendo um fator social, não poderia ser mudada, criada; no máximo, a língua seria apreendida vagarosamente pelas crianças, pelas pessoas que se dedicassem, exaustivamente, ao aprendizado de línguas.
Apesar da importância da teoria de Saussure (1916) para a compreensão da linguagem humana, Bakhtin (1997) discorda radicalmente dele, denominando a teoria saussuriana de Objetivismo Abstrato, já que Saussure (1916) (estruturalista convicto) defendia uma visão de linguagem como elemento abstrato e objetivo, herdado pelas gerações, sem qualquer possibilidade de influência do sujeito sobre esse sistema.
Por isso, esse sistema teria um caráter monológico, no que tange à enunciação, e adia a idéia de que a expressão seria determinada, estruturada pela atividade mental o que para Saussure (1916) não fazia sentido algum.
Mas, Bakhtin (1997), ao contrário de Saussure (1916), mostra-nos o oposto: é a expressão que regula, estrutura a consciência, visto que não há atividade mental sem expressão semiótica, significativa, previamente, estabelecida. A expressão semântica-semiótica é que influencia a consciência e esta a atividade mental. A atividade mental está, portanto, diretamente, relacionada com a sua orientação social que engendra os possíveis tipos de enunciação: súplica, pedido, ordem, solicitação, desejo, etc. Além disso, a partir da relação estabelecida entre a atividade mental com um ouvinte real ou em potencial (suposto ou pressuposto) é que se distinguem dois pólos para a tomada de consciência e a elaboração ideológica intimamente inter-relacionadas com os dois pólos acima mencionados, que são os seguintes: a atividade mental do eu e atividade mental do nós.
Para o autor de Marxismo e Filosofia da Linguagem (1997), a atividade mental do eu é reducionista, dado que a enunciação, neste caso, não sofre influência do caráter social sobre o qual a expressão está inserida; seria comparado a um grito qualquer de qualquer animal, que descontextualizado socialmente, não teria valor de expressão, por isso, considerado puramente fisiológico. Não obstante, a atividade mental do nós, pode ser considerada a autêntica expressão, posto que é influenciada pela situação social da qual participa, sem esquecer que é a expressão que influencia, estrutura a consciência e toda atividade mental, principalmente, a realizada por nós.
No que concerne à segunda orientação filosófico-lingüística, Bakhtin (1997) trata da teoria da linguagem proposta por Wilhelm Von Humboldt apud Ramanzini (1990), enfatizava que a linguagem deveria ser concebida como uma dinâmica e constante criação humana, por isso, talvez um dos maiores preceitos formulados por Humboldt (e depois mais tarde retomado por Chomsky), teria sido o seguinte: o falante faz uso infinito da língua, utilizando um conjunto finito de regras, ou melhor, o falante com um conjunto de regras finitas, produz um conjunto infinito de enunciados.
Afirmava ainda que não existe linguagem sem pensamento, isto é, não há linguagem sem a participação efetiva do sujeito, tinha como expoente (apesar das diferenças) Wundt, Vossler, Spitzer, Lorek e Lerck, por isso, Bakhtin classifica o tipo de lingüística praticado por estes lingüistas de subjetivismo idealista.
Desse modo, mostraremos como este movimento é visto pela Psicologia e depois como é abordado na linguagem.
Sendo assim, Freitas (1996, p. 61-62) nos revela que: “A Psicologia Subjetivista, partindo da concepção de homem como ser autônomo e livre, não determinado pelo ambiente social, vê como função do processo educativo a facilitação de situações favoráveis ao desenvolvimento pleno do educando, baseado em suas tendências e predisposições naturais”.
Apesar de Freitas (1996) desvelar a relação do subjetivismo abstrato com a educação na Psicologia, importa mais para este trabalho apenas o que diz sobre a teoria acima mencionada, ou melhor; o subjetivismo idealista considera tão somente a relação do sujeito com a linguagem, a saber, o mais importante nesta relação é que o sujeito age e reage através da linguagem, há uma ilusão do sujeito, que nesse caso, seria totalmente livre para pensar e agir.
Porém, Japiassu (1982, p. 182-183), revela-nos, justamente, o oposto:

Marx viu nesta doutrina do sujeito pensante, simbolizada no Cogito de Descartes, mas que também foi retomada pela filosofia de Hegel, a manifestação da ideologia burguesa clássica. Ao criticar a filosofia idealista clássica inaugurada pelo Cogito, Marx quer conduzir o espírito a uma atitude de convicção relativa à realidade do sensível, mas depois da experiência de uma despossessão ilusória da convicção elementar. Ele não é nem pré-cartesiano nem pré-idealista, mas pós-hegeliano e, conseqüentemente, pós-idealista. Sua convicção realista não é mais ingênua. Para ele, é o idealismo que constitui uma aberração e uma ingenuidade. Daí passar a criticá-lo. E o resultado da crítica do ‘eu pensante’ filosofia idealista, apresenta-se de dois modos: como resultado dogmático e como resultado crítico:
a) Em primeiro lugar, o ‘eu’ do Cogito não pode ser reduzido ao simples ‘eu’ abstrato de um ato puro de pensamento, ao qual corresponderiam às realidades exteriores. Sem dúvida, ele é o eu pensante, consciente de si, embora solidário a um corpo individual e a um universo natural e social. A determinação da consciência não é apenas a atualização da vida mental. Tampouco se reduz à atualização do “pensamento” , como afirma Descartes, cortado do enraizamento efetivo no universo e no corpo vivo do ser consciente. Pelo contrário, a “determinabilidade” da consciência é a totalidade dessa atualidade condicionada, de fato, e determinada pela vida, e numa conexão com o universo natural-histórico de que podemos separar-nos sem tornar-nos filósofos abstratos. Não há autarquia do sujeito pensante, a não ser que a filosofia faça comédia. Eis o resultado dogmático da operação crítica do sujeito pensante;
b. Ao mesmo tempo, porém este sujeito pensante também é um sujeito vulnerável a essa ilusão de autarquia, ilusão que se produz naturalmente em virtude de suas pertenças afetivas e de sua educação prévia. Essa ilusão é tanto maior quanto mais se torna inconsciente e se incorpora à consciência de si do filósofo. O resultado consiste em convencer o “eu pensante” de ilusão, mais ou menos imbuído de autarquia idealista, e em demonstrar publicamente o mecanismo de sua ilusão. Eis o resultado crítico da mesma operação.

De acordo com esta citação, percebemos que o sujeito está condicionado ao universo natural, histórico e social do qual participa e Kramer (1994p. 72) reafirma o que fora dito por Japiassu (1982) anteriormente:
Para o subjetivismo idealista, o fenômeno lingüístico é ato significativo da criação individual: a língua é atividade ininterrupta, as leis da lingüística são as leis da psicologia individual e a criação lingüística é análoga à artística. A lingüística seria, assim, no entender de Humboldt, Wundt, Vossler, Croce (em que pesem as diferenças entre eles) uma ciência da expressão. Dicotomizadas vida interior – vida exterior, a primazia é do interior do pólo subjetivo.

Por conseguinte, das duas correntes, anteriormente mencionadas, podemos inferir que o objetivismo abstrato nega, totalmente, o sujeito, isto é, nega a participação do sujeito na linguagem, porém, o subjetivismo idealista afirma a participação desse mesmo sujeito na linguagem, dando-lhe lugar de destaque, deiviticando-o, ou seja, a linguagem se dá, exclusivamente, pelo e no sujeito, já que para esta tendência a linguagem seria considerada uma superestrutura, completamente diferente da visão bakhtiniana, porque, para Bakhtin o discurso estaria ligado à palavra e a palavra à enunciação.
4. Considerações Finais
Do exposto, percebemos que o autor de Marxismo e Filosofia da linguagem busca um meio termo para tratar da questão anteriormente mencionada, ou melhor, revela-nos que a linguagem não é desvinculada do mundo (como quer o objetivismo abstrato) e nem o sujeito é desvinculado do meio social – onde está inserido – (como quer o subjetivismo idealista), a saber; o sujeito age, mas age em função da linguagem e do meio social sobre o qual está inserido, por isso, o sujeito não é assim tão independente como propalava Descartes em sua teoria do Cogito.
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[1] Marinho Celestino de Souza Filho, Mestre em Lingüística e professor da Unijipa – União das Escolas Superiores de Ji-Paraná, da Escola E. E. E. Fundamental e Médio Coronel Jorge Teixeira de Oliveira em Nova Londrina – Ji-Paraná – Rondônia.
[2] Para aprofundar mais a questão da “exterioridade”, ver: TRAVAGLIA, Luiz Carlos (1996). Gramática e Interação: uma proposta de gramática para o ensino de 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez.

ANÁLISE DO DISCURSO: O QUE É? COMO SE FAZ? E PARA QUÊ SERVE?

ANÁLISE DO DISCURSO: O QUE É? COMO SE FAZ? E PARA QUÊ SERVE?
Marinho Celestino de Souza Filho[1]
Quadro nenhum está acabado,
disse certo pintor;
Se pode sem fim continuá-lo,
primeiro, ao além de outro quadro
que, feito a partir de tal forma,
tem, na tela, oculta, uma porta
que dá a um corredor
que leva a outra e a muitas portas.
João Cabral de Melo Neto
Resumo: Neste breve ensaio, pretendo mostrar o que é e para quê serve a Análise do Discurso, pretendo, ainda, fornecer um modelo de análise sob uma perspectiva discursiva, conforme a proposta de Michel Pechêux, além de oferecer ao leitor alguns conceitos básicos inseridos no bojo desta disciplina.
Palavras-chave: Concepções de linguagem, Análise do Discurso, origem e importância da Análise do Discurso e modelo de análise.
Abstract: In this brief rehearsal, I intend to show what it is and for serves the Discourse Analysis, intend, yet, supply an analysis model under a discursive perspective, as the proposal of Michel Pechêux, besides offering to the reader some basic concepts inserted in the bulge of this discipline.
Key-words: language conceptions, Discourse Analysis, source and importance of the Analysis of the Discourse and model of analysis.

INTRODUÇÃO

Antes de tratarmos (neste trabalho) da Análise do Discurso, primeiramente, devemos ter em nosso universo mental concepções adequadas de linguagem que devem permear um trabalho sério com a nossa principal ferramenta de trabalho; a saber; a linguagem humana.
Por isso para estudarmos, adequadamente, certa língua, devemos, antes de mais nada, estipular critérios técnicos, científicos para tal estudo, critérios estes, criados por Ferdinand Saussure, famoso lingüista franco-suíço, considerado o pai da ciência que estuda a linguagem humana, isto é, a Lingüística.
Estes critérios são conhecidos na Lingüística como Diacronia e Sincronia[2], depois disso temos que ter em nosso universo mental concepções claras de linguagem.
Em vista disso, trataremos dessas concepções de linguagem no decorrer deste trabalho e a seguir tentaremos mostrar o que elas têm a ver com um ensino produtivo de nossa língua e, a posteriori, com a Análise do Discurso.
Segundo Kock (1997:9) há três concepções de linguagem no decorrer da história da humanidade:

“a. como representação(“espelho”) do mundo e do pensamento;”
“b. como instrumento(“ferramenta”) de comunicação;”
“c. como forma (“lugar”) de ação ou interação;”

Dentre as três concepções acima mencionadas, a que mais nos interessa para este trabalho seria a terceira, apesar de não só a primeira, como também a segunda serem muito defendidas, atualmente, por isso, centrará o nosso trabalho naquela concepção de linguagem, ainda assim comentaremos as três.
Vejamos: a primeira afirma que a linguagem seria, exclusivamente, para representar o mundo, isto é, a realidade a qual nos cerca e aquilo que pensamos sobre a mesma, ou seja, seria uma espécie de “espelho” por que perpassam nossos pensamentos e os seres vivos, ou não, os quais nos rodeiam.
Já a segunda seria uma linguagem centrada apenas na comunicação, a linguagem funcionaria tão somente para transmitir mensagens, pressupondo, assim, um emissor e um receptor perfeitos, ideais, todavia; basta uma análise da realidade (ainda que superficial) para percebemos que nem a linguagem e nem o processo de comunicação são tão simples assim como quer a teoria da comunicação.
A terceira concepção, que a nosso ver é a mais interessante, a linguagem seria fruto de uma interação entre enunciador/ enunciatário, falante/ouvinte, autor/leitor, etc.
Prestando-se não só como representação do pensamento, mas também como processo de comunicação, uma peça fundamental para a interação entre os seres humanos e neste caso a linguagem estaria, intrinsecamente, ligada com o contexto sócio-histórico-ideológico do qual participa.
Logo, para um estudo mais sério, profundo, profícuo e produtivo de nossa língua materna, deveríamos embasar o ensino-aprendizagem do português considerando as três concepções de linguagem, citadas, anteriormente, aproveitando, dessa forma, o que cada uma dessas concepções tem de relevante; isto é, no caso da primeira concepção: a linguagem como expressão do pensamento, deve-se ensinar aos discentes a organizarem melhor e com mais lógica, exatidão e clareza seus pensamentos, e em se tratando da segunda, a linguagem como “ferramenta”, “instrumento” de comunicação, podemos ensinar aos nossos alunos a se comunicarem melhor e, adequadamente, em todas as situações de interação social por que passam.
Desse modo, também estaríamos fazendo uso da terceira concepção de linguagem: que seria a linguagem como forma, lugar de ação/ interação social entre os indivíduos, ou seja, utilizando ao mesmo tempo e de maneira adequada as três concepções de linguagem, estaremos propiciando, certamente, um ensino mais produtivo de nossa língua materna. E qual a relação destas três concepções de linguagem com a Análise do Discurso?
A relação se dará através da terceira concepção de linguagem, uma vez que para a Análise do Discurso interessa, principalmente, esta concepção de linguagem, porque, segundo esta concepção, o indivíduo age, reage e interage através da linguagem, a saber; as pessoas não só consideram a comunicação, a expressão do pensamento, mas também consideram o lugar de onde estão falando, as imagens que os interlocutores têm de si, dos outros e ainda o contexto sócio-histórico-ideológico no qual estão inseridos.
1. Sobre a questão da análise do discurso: origem e importância.[3]
Trataremos, neste momento, da origem e da importância da Análise do Discurso, que doravante será abreviada por A.D, por uma questão de economia lingüística.
Sendo assim, estaremos mostrando um breve histórico da A. D, vejamos.
Origem:
berço – retórica clássica de Aristóteles, porque para este filósofo os recursos retóricos e a persuasão em contextos públicos marcavam a argumentação da época;
segunda metade do século XX, os estudos inerentes ao discurso eram direcionados pela análise filológica que examinava o texto à luz da história;
formalistas russos – a análise de textos foi especialmente inspirada no trabalho de Propp (1958) sobre a morfologia dos contos russos que proporcionou um dos primeiros impulsos para a análise sistemática do discurso narrativo. Os formalistas russos contribuíram muito para os estudos discursivos com conceitos importantes, tais como: literariedade, verossimilhança e intertextualidade;

estruturalismo:um dos movimentos tradicionais, porém, devido ao seu caráter monológico, não ultrapassou em seus estudos o nível da frase. O texto não foi prioridade em suas investigações, uma vez que o objeto das pesquisas estruturais era a fala e não a escrita, os pesquisadores estruturalistas analisavam, praticamente, tudo: o número de fonemas, os morfemas, os sintagmas contidos na frase, mas, não ultrapassavam em suas análises os limites da sentença ou frase. Por isso, durante o movimento estruturalista, a análise centrou-se na frase e não no texto;

simultaneamente, a este momento histórico da lingüística, o único movimento a considerar o texto como unidade de análise foi a Tagmênica, teoria analítica criada pelo lingüista norte-americano Kenneth L. Pike. (que usou o termo tagmema, menor unidade significativa de uma forma gramatical, sua correlação seria a de função ou classe gramatical em nossa língua.) cuja intenção era traduzir os evangelhos para as línguas indígenas; por isso, os estudos de textos desse período, tornaram-se, sem sombra de dúvida, fator relevante para os estudos discursivos, a posteriori;
em 1950, nos estados unidos, Harris publica a obra intitulada Discourse Analysis que mostra como analisar enunciados lingüísticos que vão além da frase;

os trabalhos de Roman Jakobson que vincularam o conceito de função da linguagem aos estudos da língua, ao lado das propostas de Benveniste (1974) para o estudo da enunciação, foram de extremo valor para o desenvolvimento da análise do discurso. Além disso, é Benveniste (1974) que instaura um momento de fertilidade para os estudos discursivos, ao definir enunciação como um processo de apropriação da língua, ou seja, a língua, vista sob este prisma, é apenas uma possibilidade que ganha realidade somente no ato enunciativo ao expressar sua relação com o mundo. Assim o referente, nesse caso, o mundo deixa de estar fora da linguagem para incorporar-se à enunciação;
Acrescente-se ainda que a valorização do sujeito-locutor, ou melhor, a construção do sentido passa por essa noção de sujeito-locutor. E isto se torna uma das contribuições mais significativas para a Análise do Discurso, porque, consoante Benveniste, o sujeito deixa marcas, rastros de sua presença nos enunciados por ele produzidos.
Diante do exposto, resta-nos, agora, mostrar a Análise do Discurso de origem francesa tal como é concebida, hoje:
vínculo: tradição intelectual européia – busca no texto a reconstrução histórica do sujeito, ao unir a reflexão do texto com a história, a linha francesa resgata a interdisciplinaridade em análise do discurso, porque, o discurso passa a ser também objeto de estudo de historiadores e psicólogos, por isso, tanto o marxismo quanto a psicanálise fazem parte dos estudos discursivos;
por outro lado, a França, cuja tradição é literária, também contribuiu muito com os principais fundamentos para a Análise do Discurso.
Michel Pêcheux, em 1969 na França, lança bases para uma análise automática do discurso.
Sendo assim, procuraremos, através desse trabalho, mostrar não só a origem da A.D, mas também sua importância para o estudo da linguagem humana, porque, como vimos, antes da A.D os estudos lingüísticos não ultrapassavam, praticamente, o nível da frase ou da sentença.
2. CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA, DO MARXISMO E DA PSICANÁLISE PARA A ANÁLISE DO DISCURSO.

A seguir, veremos algumas das contribuições da Lingüística, do Marxismo e da Psicanálise para a A. D.
a) Lingüística: pelo conceito de Estrutura e ainda por ser uma ciência da linguagem, garantindo, assim, à Análise do Discurso certo rigor científico. As análises, agora, são transfrásticas, isto é, vão além da frase.
b) Marxismo: Althusser em Aparelhos Ideológicos do Estado amplia o conceito de ideologia de Marx, apesar de esse conceito ser altamente produtivo para a Análise do Discurso, porque, segundo Marx e Engels a ideologia deve ser identificada com a separação que se faz entre produção das idéias e as condições sociais e históricas em que são produzidas.
Logo, o que interessa para a Análise do Discurso no Marxismo é, justamente, essa relação da ideologia com as condições sociais da produção do discurso e da História.
c) Psicanálise: a partir da descoberta do Inconsciente em Freud, o conceito de Sujeito sofre uma alteração drástica nas Ciências Humanas.
Em vista disso, Lacan ao reler Freud busca no Estruturalismo, embasado em Saussure e Jakobson um novo conceito de Inconsciente, ou seja, para Lacan o Inconsciente se estrutura a partir de uma cadeia de significantes cuja principal característica seria a repetição e a interferência no discurso efetivo, como se houvesse sempre ali um já-dito, um discurso atravessado por outro discurso, isto é, o discurso Inconsciente.
Dessa forma, percebemos que as contribuições das áreas do conhecimento, acima mencionadas: Lingüística, Marxismo e Psicanálise ajudaram (e muito) a desenvolver os estudos inerentes ao discurso.
3. SOBRE A QUESTÃO DE ALGUNS CONCEITOS NA ANÁLISE DO DISCURSO.

A seguir trataremos de alguns conceitos concernentes à Análise do Discurso, que não é como muita gente pensa uma disciplina autônoma, mas, uma fusão de três ramos distintos do conhecimento científico, a saber, Lingüística, Marxismo e Psicanálise.
A Análise do Discurso pode ser considerada uma escola de origem européia, cujo pai Michel Pêcheux lança bases para esta escola em 1969, ou de origem americana, iniciada por Harris, em 1952, com a Obra Discourse Analysis.
Logo, a grande “sacada” [4] da A.D - Análise do Discurso seria de não mais embasar os estudos lingüísticos no nível da frase, ou sentença isolada; agora; os estudos lingüísticos estão no nível do discurso ou do texto.
Por isso, mostraremos, abaixo, alguns conceitos referentes a esta área tão relevante para o estudo da linguagem humana, ou seja, conceituações referentes aos estudos ligados ao campo do discurso, serão estes os principais conceitos que veremos:
a) Assujeitamento Ideológico: consiste em fazer com que cada indivíduo, inconscientemente, seja levado a ocupar seu lugar na sociedade, identificando, assim, com grupos ou classes sociais.
b) Autor: função social do sujeito que pode e deve ser definido pela escola, atravessado pela exterioridade e pelas exigências de coerência, não - contradição, etc.
c) Condições de Produção: instância verbal da produção do discurso, determinadas pelo contexto sócio-histórico-ideológico, os interlocutores, o lugar de onde falam à imagem que fazem de si e do outro e do referente.
d) Diálogo: em sentido estrito, comunicação verbal entre duas pessoas, sentido amplo, como quer Baktin, é toda comunicação verbal qualquer, forma de interação. Compreende, assim, estritamente, um enunciado, um enunciador e um enunciatário.
e) Enunciação: emissão de um conjunto de enunciados que é produto da interação verbal de indivíduos socialmente organizados. A enunciação se dá no aqui e agora sem jamais se repetir, marca-se, exclusivamente, embora não somente, pela singularidade.
f) Enunciador: é o produtor do enunciado, isto é, o ponto de vista do locutor dependendo da posição social que ocupa.
g) Formação Discursiva: é o que pode e deve ser dito a partir de um lugar social historicamente determinado e atravessado por uma formação ideológica. num mesmo texto podem aparecer formações discursivas diferentes, acarretando, dessa forma, com isso, variações de sentido.
h) Formação Social: é o lugar onde se estabelecem as relações entre as classes sociais historicamente definidas, mantendo entre si relações de aliança, antagonismo ou dominação.
i) Interdiscursividade: relação de um discurso com outros discursos.
j) Interlocução: processo de interação entre os indivíduos os quais podem usar tanto a linguagem verbal, quanto a não-verbal.
k) Intertexto: relação de um texto com outros textos.
l) Língua: sob uma perspectiva discursiva, seria a realização concreta da fala, resultante de uma relação não-excludente, ou seja, porque não há língua sem fala, e nem fala sem língua, uma depende da outra para existir, a saber; a língua está para a fala, assim como a fala está para a língua.
m) Linguagem: sob uma perspectiva do discurso, seria fruto da interação entre sujeitos socialmente, historicamente e ideologicamente constituídos.
n) Locutor: função enunciativa que o sujeito falante exerce.
o) Polifonia: conceito criado, inicialmente, por Baktin que o aplicou à literatura, retomado, posteriormente, por Ducrot que lhe deu um tratamento lingüístico, ou melhor, refere-se ao fato de todo discurso está construído pelo discurso do outro, toda fala atravessada pela fala do outro.

p) Pré-construído: todo discurso pressupõe outro discurso que lhe é anterior.
q) Regras de formação: regras constitutivas de uma formação discursiva, conceitos e diversas estratégias capazes de explicitar, descrever uma formação discursiva, permitindo ou excluindo certos temas ou teorias.
r) Sentido: está intrinsecamente ligado com a formação discursiva da qual participa, produzido no processo de interlocução e atravessado pelas condições de produção (contexto sócio-histórico-ideológico) do discurso.
s) Sujeito: sobre uma perspectiva discursiva, deixa de assumir uma noção idealista, imanente, o sujeito da linguagem não é o sujeito em si, mas tal como existe socialmente e interpelado pela ideologia, ou seja, não há ideologia sem sujeito, nem sujeito sem ideologia. Por isso, o sujeito não é a fonte, a origem dos sentidos, porque à sua fala atravessam outras falas, outras vozes, enfim; outros dizeres e por que não dizer até outros não-dizeres.
t) Forma sujeito: conceito criado por Pêcheux para indicar que o sujeito é afetado pela ideologia.
u) Superfície discursiva: constituída por um conjunto de enunciados pertencentes a uma mesma formação discursiva.
v) Texto: unidade complexa constituída de regularidades e irregularidades cuja análise implica suas condições de produção (contexto sócio-histórico-ideológico, situação, interlocução), conforme Orlandi de natureza intervalar, já que como objeto teórico não apresenta uma unidade completa em si mesma, pois o sentido do texto se constrói no espaço discursivo dos interlocutores. E como objeto empírico de análise, pode ser considerado algo acabado, pronto com começo, meio e fim.
w) Tipos de esquecimento: segundo Michel Pêcheux (1975), em sua obra intitulada por “Semântica e Discurso”, traduzida por Orlandi e outros, podemos distinguir duas formas de esquecimento:
x) Esquecimento 1 – também chamado de esquecimento ideológico, é da instância do inconsciente, resultante do modo pelo qual a ideologia nos afeta.
y) Esquecimento 2 – é da ordem da enunciação, já que ao falarmos dizemos de uma maneira e não de outra, estabelecemos, assim, verdadeiras relações parafrásticas as quais indicam que os dizeres sempre podem ser outros.

Sabendo que o discurso é a matéria prima para o analista, faz-se, nesse momento, necessário conceituar esse termo, tarefa árdua[5] por si só.
Segundo Orlandi (2001:21), discurso seria “o efeito de sentidos entre locutores.” Considerando o Contexto Sócio-Histórico-Ideológico (condições sociais, a História Oficial e também a História particular de cada pessoa, por fim, a ideologia que permeia as relações humanas) no qual o discurso e o Sujeito estão inseridos, a saber; o discurso seria o resultado, a conseqüência do efeito de sentido sobre os locutores.
Diante do exposto, tentaremos mostrar como funciona uma análise sob uma perspectiva discursiva, isto é, tentaremos fornecer um modelo de análise embasado na linha européia de Análise do Discurso, cujo pai é Michel Pêcheux.

4. ANÁLISE DO DISCURSO SOB UMA PERSPECTIVA DISCURSIVA DA PROPAGANDA DO JORNAL DA FOLHA DE SÃO PAULO.

A Análise do Discurso de origem francesa, atualmente, é um dos métodos mais utilizados para analisar discursos, sejam eles orais ou não. Sem querer esgotar um discurso, mas, procurando nele (no discurso) os prováveis sentidos que assume ou pode assumir, sem deixar de considerar o sujeito, sua história, a ideologia e o contexto social no qual este sujeito está inserido.
Além disso, procura analisar, ainda, (quase) todos os tipos de discurso possíveis, tais como: político, pedagógico, científico, literário, das propagandas, etc.
Desse modo, analisaremos o discurso de uma propaganda do Jornal da Folha de São Paulo, isto é, uma propaganda da Folha contida na própria Folha.
Conforme, dissemos anteriormente, o método de análise contemplará a escola francesa de Análise do Discurso, cujos procedimentos mostraremos a seguir:
a - através de paráfrases[6] e metáforas, tentar-se-á mostrar os prováveis e até “improváveis” efeitos de sentidos do discurso (matéria prima do analista). No que se refere principalmente à pluralidade, várias possibilidades de leituras que um discurso pode assumir ou não;
b- através da compreensão e do entendimento das relações de inserção e de inter-ação estabelecidas do sujeito com o Contexto sócio-histórico-ideológico, ou seja, a história de cada sujeito, o papel que desempenha na sociedade, a posição social e a ideologia que permeia as relações humanas, influenciando os sujeitos a tomarem certas atitudes e não outras.
Diante do exposto, resta-nos partir para a análise, propriamente dita; a propaganda que analisaremos é a seguinte:
“Não é só a cabeça do leitor da
Folha que é mais aberta.
A mão também.”
(Imprensa, ano V, mês 11, nº 51, P 101. Folha de São Paulo).
Primeiramente, por meio da paráfrase e da metáfora, tentaremos mostrar alguns dos prováveis efeitos de sentidos da referida propaganda.
Parafraseando-a “Não é só o intelecto do leitor da Folha que é mais aguçado.
O bolso também.”
Metaforicamente, obtemos:
a- “Não é só a cabeça do leitor da Folha que é mais aberta.” Equivale ao intelecto mais aguçado, isto é, pessoas mais bem preparadas no que tangem à informação.
b- “A mão também”. Implica que não importa o preço que se tem de pagar, se o mais relevante, importante é o nível de qualidade das informações prestadas.
Diante disso, falta-nos ainda discutir a relação do sujeito com o Contexto sócio-histórico-ideológico no qual está inserido e as condições de produção desse tão referido discurso.
As condições de produção foram as seguintes:
a- o discurso foi produzido por um enunciador que trabalha na Folha de São Paulo; ou não; porque a propaganda pode ter sido encomendada a alguém pela Folha, isto é, solicitada a um “free lancer”, por exemplo.
b- o discurso foi escrito (e não oralizado) no próprio Jornal, visando, assim, a aumentar significativamente o número de leitores da Folha;
c- O discurso é sobre o próprio Jornal.
Quanto ao contexto sobre o qual nos referimos acima, o discurso dessa propaganda pretende atingir o sujeito/Leitor que está inserido na história da humanidade, concomitantemente, com a sua própria história.
Sendo assim, torna-se imprescindível e relevante que este sujeito esteja (supostamente) bem informado e não se importe com o preço que tem de pagar por informações de alto nível e de excelente qualidade que (talvez) só poderão ser encontradas na Folha de São Paulo, além disso o que se pretende, praticamente, é aumentar de forma significativa o número de assinantes desse Jornal, ou seja, a vendagem desse periódico.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que se disse (e até do que não se disse, dizendo) percebemos a grande importância da Análise do Discurso para o desenvolvimento dos estudos lingüísticos, ou melhor, notamos a relevância da A. D no que tange ao estudo deste fantástico, intrigante, instigante mundo que é a linguagem humana.
REFERÊNCIAS

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[1] Professor de Língua Portuguesa na Unijipa – União das Escolas Superiores de Ji-Paraná - RO e da E.E.E. Fundamental e Médio Governador Coronel Jorge Teixeira de Oliveira. E-mail: marola_5@hotmail.com, fones: 69-3421-32-99 ou 99094301.
[2] Diacronia seria o estudo histórico, evolutivo de uma língua, comparando-a em época e tempo distintos. Já a Sincronia seria recortar a língua em uma dada época ou tempo e estudá-la, considerando, apenas, só esta época ou tempo, previamente; estabelecidos.
[3] Estarei tratando, neste trabalho, da Análise do Discurso, não pretendendo com isto, lançar algo novo, inédito, apenas, simplesmente; refletindo sobre este fenômeno maravilhoso: a linguagem humana.
[4] “Sacada” no sentido de descoberta.
[5] Verificando o Houaiss, encontrei, aproximadamente, dez acepções diferentes para o termo discurso.
[6] Apesar de um considerado número de trabalhos publicados na área da Lingüística e dos avanços inerentes ao estudo do discurso, não temos, ainda, critérios adequados para afirmar que uma paráfrase seja melhor do que outra, isto é, não há algum critério,seja semântico, seja pragmático, seja discursivo, seja lingüístico, até agora, o qual poderá nos garantir que uma paráfrase seja tão boa quanto ao enunciado original, ou tão ruim.
PSICOLINGÜÍSTICA: UM BREVÍSSIMO COMENTÁRIO[1].
PROFESSOR: MARINHO CELESTINO DE SOUZA FILHO[2]

Origem: o termo surgiu pela primeira vez em 1951, num “seminário de verão” na Universidade de Cornell – Estados Unidos, logo seguido pela criação de uma comissão de psicólogos: C.E. Osgood, J. B. Caroll, G. A. Miller e dos lingïstas: T. E. Sebeok, F. G. Lounsbury, sugeriram, assim, um campo interdisciplinar de estudos do qual participam a Psicologia e a Lingüística.
Estes estudos eram feitos originalmente pela Psicologia da Linguagem, que abordava uma questão primordial à Psicologia e à Lingüística: as relações entre pensamento (comportamento) e linguagem.
Sabemos ainda que a Psicolingüística é uma disciplina relativamente nova, e seria um erro crer que se trata apenas de um termo novo para designar o que antes se chamava (e ainda se chama eventualmente) Psicologia da Linguagem.
Conseqüentemente, o que ocasionou o nascimento da Psicolingüística foi à colaboração interdisciplinar entre psicólogos e lingüistas.
Diante do exposto, mostraremos a seguir os períodos que contribuíram para a formação de tão distinto ramo do conhecimento científico: a Psicolingüística, são eles:

è 1 - Período formativo:
Concomitantemente com o aparecimento da Teoria da informação, após a segunda guerra, surge também um quadro epistemológico mais consistente para os estudos psicolingüísticos.
Dois teóricos se sobressaíram nestes estudos: Shanon & Weaver (1949) que definiram uma unidade de comunicação formada por: fonteètransmissor/codificadorècanalèreceptor/decodificador è destinação. Este modelo, predominantemente, mecanicista (regido pelas leis da física – cinemática, estudo dos movimentos, estática, estuda o equilíbrio dos corpos e dinâmica, a força que produz os movimentos) foi amplamente utilizado pela pesquisa da década de 1950, com fortes acentos comportamentalistas.
Assim sendo, Osgood & Sebeok[3] (1954) definem a Psicolingüística como o estudo dos “processos de codificação e decodificação no ato da comunicação na medida em que ligam [relacionam] estados das mensagens e estados dos comunicadores”.
E após dois seminários feitos sobre esta disciplina, um já mencionado anteriormente, e o outro realizado em 1953, na Universidade de Indiana, sob a direção do antropolingüista Sebeok e do do psicólogo Osgood, depois do lançamento dos anais deste segundo seminário, em 1954, com o título de “Psycholingustics:a survey of theory and research problems” – cuja tradução seria “Psicolingüística:ca: estudo da teoria e dos problemas de pesquisa” – funda-se, oficialmente, a Psicolingüística.

è 2-Período Lingüístico:
A Psicolingüística herda de Chomsky, em 1957, o modelo gerativo, propondo, assim, uma abordagem racionalista e dedutiva para esta ciência, contrapondo-se, desse jeito, com as teorias de Skinner, criticando-o pelo caráter, predominantemente, operacionalista (concepção da psicologia como operações comportamentalistas, desprezando-se, desta forma, os aspectos exteriores à consciência) de suas teorias.

è 3- O período cognitivo
Neste período as teorias lingüísticas não perderam sua importância, mas, perderam o caráter exclusivista do período anterior, por isso, os “cognitivistas” postuvalavam que a linguagem humana estaria subordinada a fatores cognitivos mais fundamentais, dos quais ela (a linguagem) seria apenas mais um fator.
Vale lembrar que até o próprio Chomsky também enfatizava o aspecto cognitivo humano presente na Lingüística, dizendo que os lingüistas eram de fato psicólogos cognitivos.
Do exposto, tratarei, a seguir, do estado atual da Psicolingüística.

è O estado atual da Psicolingüística

Este estado denominado por Kess (1992) de período da teoria psicolingüística, realidade psicológica e ciência cognitiva, esta disciplina se apresenta em estado de transição, com pesquisas oriundas de várias escolas teóricas, sendo também o caso da Psicologia e da Lingüística. Outra característica importante deste período é o grande número de trabalhos interdisciplinares, atestando, assim, que problemas científicos de um campo afetam sobremaneira vários campos correlacionados.
Além disso, é bom lembrar que a ênfase na realidade psicológica, deste período, readquire função apriorística na teoria psicolingüística.
Por conseguinte, conforme, percebemos, a Psicolingüística desempenha, assim, um papel fundamental para o estudo da linguagem humana.





[1] Nesta edição, estarei tratando da Psicolingüística, pretendo oferecer aos leitores, apenas, algumas reflexões básicas sobre este ramo tão complexo e amplo do conhecimento, não estou pretendendo lançar algo novo, inédito, estou, apenas, mais uma vez, pensando...
[2] Professor de Língua Portuguesa da Unijipa – União das Escolas Superiores de Ji-Paraná – RO e da E. E. E. Fundamental e Médio Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, também, localizada em Ji-Paraná – RO.
[3] Para saber mais ver:
BENTES, Anna Christina & Mussalim, Fernanda. (Org.). (2003). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. V. 2. 6 ed.
São Paulo: Cortez.
CAGLIARI, Luiz Carlos. (1995). Alfabetização e Lingüística. 6 ed. São Paulo: Scipione.
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DOLLE, J. M. (1978). Para compreender Jean Piaget – uma iniciação à psicologia genética piagetiana.
Rio de Janeiro: Zahar.
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FERREIRO, E. & TEBEROSKY, A. (1991). Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas.
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VYGOTSKY, L. S. (1991). Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes.



BREVE HISTÓRIA DA LEITURA E DA ESCRITA
[1]Marinho Celestino de Souza Filho

Resumo: Neste breve ensaio, pretendemos construir um breve histórico da leitura e da escrita, tentando mostrar ainda as evoluções dessas duas atividades no transcorrer do tempo e elencando através da pesquisa bibliográfica a importância da leitura e da escrita desde o descobrimento do Brasil até os dias atuais.
Palavras-Chave: Leitura. Escola. Histórico. Concepções de Leitura. Importância da Leitura e da Escrita.
Introdução
Não devemos esquecer-nos do passado histórico, quando pensamos no ensino-aprendizagem da Leitura em nosso país e o que herdamos na formação da nossa cultura.
No Brasil-Colônia, o exercício do ato de ler, era permitido a poucos: aos portugueses que aqui aportaram, aos senhores de engenho e a seus filhos, ou às pessoas ligadas administração da colônia; aos jesuítas e ao clero. Quanto às outras pessoas que moravam nessa pátria, esse direito não lhes era garantido, ou seja, o direito de ler e de escrever, dentre outros.
Privilegiava-se, assim, uma suposta raça superior, ou melhor, os “descobridores e benfeitores”, por isso o que servia de manual de leitura e de escrita eram textos autobiografados, relatos de viajantes, textos escritos manualmente como algumas cartas familiares e alguns documentos feitos em cartório: certidão de casamento, de nascimento e alguns títulos de propriedades.
Sendo assim, havia pouco material de leitura e escrita naquela época e ainda esse material era destinado a poucos que gozavam de uma excelente posição social, como os portugueses que aqui chegavam e os seus parentes, aos escravos e aos empregados não lhes eram garantidos o direito de ler e escrever.
1. Concepções de linguagem e de leitura
Segundo Koch (1997), foram construídas no decorrer da história humana três concepções distintas de linguagem, a saber: 1. como representação (“espelho”) do mundo e do pensamento; 2. como instrumento (“ferramenta”) de comunicação; 3. como forma (“lugar”) de ação ou interação.
Dentre as três concepções acima mencionadas, a que mais interessa para este trabalho é a terceira, apesar de a primeira e a segunda serem muito defendidas, atualmente.
A primeira afirma que a linguagem serviria para representar o mundo e a realidade que nos cerca e ainda aquilo que pensamos sobre ela, dessa forma, a linguagem seria uma espécie de “espelho” por que perpassam nossos pensamentos e os seres vivos ou não os quais nos rodeiam.
A segunda mostra-nos que a linguagem seria centrada apenas na comunicação.A linguagem funcionaria somente para transmitir mensagens, pressupondo, assim, um emissor e um receptor ideal. Apesar de o processo de comunicação e a linguagem não serem tão simples assim como mostra a Teoria da Comunicação, porque as pessoas ao falarem não só comunicam o que estão falando, como também agem e reagem através da linguagem, desse modo, podem interromper quem fala e muitas vezes também são interrompidas, além de poderem produzir pausas, hesitações e ironias.
Além disso, há de se considerar o lugar de onde as pessoas falam, a imagem que elas têm umas das outras, a posição social dessas pessoas e ainda o que dizem e até o que não dizem dizendo,ou melhor, a questão dos não-ditos. Observando, ainda, principalmente; o contexto sócio-histórico e ideológico no qual esses interlocutores estão inseridos.
Na terceira concepção, percebemos que a linguagem seria fruto da interação entre enunciador/enunciatário, falante/ouvinte, autor/leitor, prestando-se não só como representação do pensamento, mas também como processo de comunicação, isto é, uma peça fundamental para a interação entre os seres humanos e, neste caso, a linguagem sofreria o que Travaglia (1996)[2] chama de “exterioridade” sócio-histórica e ideológica, ou melhor, a linguagem seria influenciada pelo contexto lingüístico e extralingüístico, pela ideologia e pela História, não só a oficial, mas também a história de cada indivíduo.
Concepções de leitura

Sabemos que, no transcorrer da História da humanidade, temos algumas concepções de leitura, no entanto, esse trabalho pretende mostrar apenas uma concepção, a leitura segundo uma perspectiva discursiva, dessa forma, a leitura deve ser vista como atribuição de sentidos, levando em consideração alguns fatos:
§ enxergar a leitura como algo que é produzido, sendo assim, possível de ser trabalhada e não só ensinada;
§ a leitura tanto quanto a escrita faz parte do processo de construção, instauração dos sentidos;
§ o sujeito leitor tem suas individualidades e sua história;
§ tanto o sujeito quanto os sentidos são atravessados pela história e pela ideologia;
§ há múltiplos e variados modos de leitura;
§ a nossa vida de leitores, escolar, acadêmica está quase sempre relacionada aos modos e efeitos de leitura de cada época e segmento social;
§ o modo de leitura: organiza a relação dos leitores com o texto, por isso, vejamos como cada modo de leitura organiza essa relação:
1. relação do texto com o autor: o que o autor quis dizer?
2. Relação do texto com outros textos: em que este texto se aproxima ou se distancia de tal texto?
3. Relação do texto com sua referência; o que texto tal diz de x, y ou z?
4. Relação do texto com o leitor: o que você entendeu desse texto? Como entendeu?
5. relação do texto com a pessoa que solicita a leitura (se para o professor) o que significa mais nesse texto para o professor x, you z ou ainda o que significa w para o professor x, y ou z?
Desse modo, a concepção de leitura sob uma perspectiva discursiva, certamente, deverá ser a mais adequada para estudarmos seriamente uma língua, no nosso caso, a Língua Portuguesa.
Breve histórico da leitura

Entre nós a história da Leitura se inicia com muita discriminação, só aos senhores era assegurado esse direito e aos outros era usurpado, em nome da “superioridade da raça” como descobridores e benfeitores, permanecendo assim por longo período.
Até meados do século XIX , praticamente não existiam livros. O que serviam como manuais de leitura nas escolas eram textos autobiografados, relatos de viajantes, textos escritos manualmente como cartas, documentos de cartório, e a primeira constituição do império de 1.827, especifica sobre a instrução pública, o código criminal e a bíblia também serviam como manuais de leitura nas raras escolas que existiam.
As escolas primárias praticamente não existiam, pois eram excluídos os escravos e, à mulher era dada um tipo de educação conhecida apenas por educação geral, para cumprir as atividades domésticas.
Durante a colonização, as práticas escolares eram feitas nos engenhos e nos núcleos das fazendas por capelões, padres e mestres-escolas que eram contratados com este fim. Essa afirmativa é confirmada por Bastos (1982, p.92):

De 1800 a 1807 o Brasil mudou pouco em vários setores e, no ensino, nós continuávamos a trabalhar com a gramática de Reis Lobato, imposta por D. José I , rei de Portugal, que a exigiu não só na metrópole , mas em todas as suas colônias. A partir de 1808, começaram mudanças que se tornaram continuas até praticamente o fim do século. Nesse ano, a coroa portuguesa mudou-se para o Brasil, para fugir da perseguição dos franceses comandada por Napoleão Bonaparte. Tal fato aparentemente comum trouxe modificações para a língua falada no Brasil e, também, trouxe à tona o significado de nacionalidade e de independência.

Com a vinda da família real para o Brasil e a abertura dos portos, ocorreram transformações significativas nas relações sociais econômicas e culturais, surgindo à necessidade da instrução para a capacitação da força de trabalho, pois o mundo passava por transformações.
Na Europa, as mudanças sociais e políticas, levaram a burguesia a alcançar o poder na França, na Áustria, Rússia, Prússia e, quase ao mesmo tempo, aconteceu a revolução Industrial da Inglaterra. O mundo inteiro passava por profundas mudanças, tanto na sociedade quanto nas idéias . Os homens mudaram seu ponto de vista sobre eles mesmos, tornaram-se mais fantasiosos , subjetivistas, individualistas e narcisistas.
O Brasil não ficou imune as essas transformações, embora tenha sido mais lentas , o importante é que a sociedade mudou, e a aristocracia e o clero passaram a exercer cada vez menos influencia sobre o povo.


3. Breve histórico da escrita

A escrita inicia-se, como sabemos, na Suméria por volta de 3.100 a.C. Esse país existia onde hoje se localiza o Irã e o Iraque, numa região chamada Mesopotâmia, que significa entre rios; rios Tigres e Eufrates.
Nesta região, a floresta era escassa e havia muita água. Os recursos naturais dessa região foram muito bem aproveitados, eles faziam tabletes de barro parecidos com uma almofada para escrever. Com o passar do tempo foram aperfeiçoadas as técnicas e surgiram outras fontes que também foram muito exploradas como a madeira, o metal, as pedras dos monumentos, as peles de animais que foram usadas até a descoberta do papiro, que graças ao desenvolvimento da tecnologia, hoje temos um papel muito sofisticado.
Sendo assim, a concepção de escrita espalhou-se pelo planeta, aparecendo, por isso, variações do sistema da escrita. Para melhor representar a escrita cada nação criava os seus próprios símbolos gráficos e os seus próprios usos para representarem suas línguas, dessa maneira, surgem sistemas variados de escrita.
Alguns estudiosos acham que a escrita também tenha surgido de forma independente em outras partes do mundo como na China, por volta de 1.300 a. C., na América Central, entre os Maias, cuja história se conhece muito pouco e grande parte da escrita ainda não foi decifrada, e no Egito por volta de 3.000 a. C. Os demais sistemas de escritas são derivados destes quatro, sobretudo do Sumérico.
A escrita foi utilizada exclusivamente para fins contábeis, desse modo, as primeiras manifestações escritas, mesclavam números e desenhos de animais e objetos que serviam para contar alguma história, como as inscrições rupestres feitas em várias cavernas.
Por isso, a escrita difere do desenho. Quando um desenho deixa de representar um objeto do mundo e passa a representar uma palavra de uma língua, este deixa de ser um simples desenho e passa a representar à escrita.
Sabemos que os sistemas de escritas começaram com caracteres na forma de desenhos de objetos que representavam palavras, mas esse sistema logo se esgotou diante da necessidade das pessoas se expressarem; como na hora de escrever o nome de alguém, não bastava mais desenhar um homem ou uma mulher; se alguém se chamasse Pena, bastava acrescentar ao desenho do homem uma pena, mas se alguém se chamasse João, que desenho poderia ser feito? Diante das necessidades de representação gráfica humanas, os sistemas de escrita começaram a representar os sons das palavras e não mais as idéias. A princípio parecia fácil, porque para escrever irmão, traçava-se o desenho de duas pernas que significavam ir e o desenho de uma mão que completava a mensagem, mas, apareceram situações diferentes que necessitavam de esclarecimento.
Segundo Cagliari (2004), a história da escrita vista em sua plenitude, sem seguir certa teoria de evolução ao longo do tempo, caracterizava-se em três fases distintas: a pictórica a ideográfica e a alfabética.
A fase pictográfica se distingue da escrita, porque era expressa através de desenhos ou pictogramas, os quais apareciam em inscrições antigas. Por isso, encontramos formas de escrita muito mais sofisticadas nos cantos de Ojibwa da América do Norte, na escrita Asteca, principalmente, no catecismo, e atualmente nas histórias em quadrinhos.
Os pictogramas estão associados a uma imagem do que se quer representar e não ao som, dessa forma, consistem em representações gráficas menos elaboradas dos objetos, cuja função seria representar a realidade.
A fase ideográfica caracteriza-se pela escrita representada através de desenhos especiais chamados ideogramas.
Dentre as principais escritas ideográficas, as mais importantes são a egípcia, conhecida também com o nome de hieróglifo, a escrita mesopotâmia, da suméria, as escritas do Mar Egeu; por exemplo; a cretense e a chinesa que provêm da japonesa.
Por isso, o uso de letras vem caracterizar a fase alfabética que se originou dos ideogramas e perderam seus valores ideográficos, assumindo nova função na escrita; a função fonográfica. O ideograma perde o valor pictórico e passa a ser uma representação fonética. Dentre os mais importantes estão o indiano e o greco-latino.
Segundo Cagliari (1995) o sistema alfabético passou por inúmeras transformações até se tornar o que conhecemos hoje.
Nesse sentido, os fenícios aproveitaram os sinais da escrita egípcia e realizaram um inventário de caracteres, cada inventário descrevia um som consonantal; as vogais não tinham importância, cada palavra era facilmente reconhecida somente pelas consoantes, por isso, até hoje, essas características permanecem no sistema de escrita do árabe e do hebraico.
Já os gregos usaram o sistema de escrita dos fenícios e fizeram uma adaptação, a ele, adicionaram as vogais, relevantes na formação e no uso do reconhecimento das palavras. Nesse aspecto, aos gregos devemos o privilégio da invenção da escrita alfabética, contendo; nesse sistema, vogais e consoantes. Dessa forma, a escrita alfabética possui menor número de símbolos e, por isso, favorece maior possibilidade combinatória de caracteres gráficos..
Nesse contexto, a escrita grega também foi incorporada e adaptada pelos romanos, sofrendo variações, dessa forma, formou o sistema greco-latino, originando, assim, o nosso alfabeto.
Dessa forma, o sistema de escrita apresenta algumas formalizações: escrevemos de cima para baixo e da esquerda para a direita, embora isto seja muito comum entre vários sistemas de escrita, nem todos são assim, como por exemplo: os chineses e os japoneses escrevem da direita para esquerda em colunas verticais, os árabes escrevem da direita para a esquerda, em linhas de cima para baixo.
Assim sendo, o grego antigo tinha um sistema de escrita chamado brustrofédon. Neste sistema, começava-se a escrever numa linha em cima à direita e ia-se até o final dessa linha, todavia, na linha seguinte; invertia-se a direção das letras. Dessa forma, a terceira linha era semelhante a primeira e, assim por diante.
4. Considerações Finais
Procuramos, nesse trabalho, mostrar um breve histórico da leitura e da escrita.
Nesse aspecto, procuramos ainda mostrar a origem da escrita de alguns povos antigos: gregos, sumérios, chineses, japoneses, mas também tentamos comparar o sistema de escrita desses povos na antigüidade com o sistema de escrita atual; elencando, principalmente, as semelhanças, mas também não nos esquecemos de mostrar algumas das diferenças existentes entre esses sistemas.
Dessa forma, procuramos tratar também da origem da leitura, traçando um breve histórico da leitura em Portugal e depois mostrando como era praticada e quem poderia praticá-la no Brasil.
Sendo assim, acreditamos que a relevância desse trabalho está justamente em tentar compreender como a leitura e a escrita surgiram e ainda como eram praticadas, ou seja, compreendendo a origem de tão relevantes e complexas atividades, poderemos, dessa forma, entender melhor o funcionamento delas, e, compreendendo-as melhor, certamente, a nossa prática de leitura e de escrita melhorará, assim, poderemos trabalhá-las com mais segurança, com mais eficiência, contribuindo, dessa maneira, para a formação de cidadãos críticos e de excelentes leitores.

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SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura e Realidade brasileira. 3 ed. Porto Alegre, Mercado Aberto: 1986.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. O ato de Ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. 8 ed. São Paulo, Cortez: 2000.

[1] MSc. em Lingüística e Professor de Língua Portuguesa na Unijipa – União das Escolas Superiores de Ji-Paraná-RO e da Escola E. E. F. M. Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, localizada no Distrito de Nova Londrina – Ji-Paraná-RO.
[2] Para aprofundar mais a questão da “exterioridade”, ver: TRAVAGLIA, Luiz Carlos (1996). Gramática e Interação: uma proposta de gramática para o ensino de 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez.